terça-feira, 18 de setembro de 2012




Porque o Botafogo contribuiu para a Tropicália?


  Fui abduzido a assistir “Tropicália” e posso afirmar-lhes com toda a segurança que este é um baita documentário. Não apenas por seus depoimentos e vídeos históricos, mas principalmente por ter uma estética arrojada e uma narrativa envolvente. Um filme emocionante para todos aqueles que veem no movimento um sopro de liberdade artística misturada com uma inalação de tudo o que pode ser considerado tenro, bento, severo, divino e maravilhoso.
       
     Porém, não pude deixar de sentir falta, vendo tantos meios de campos, dos artistas da estrela solitária. Afinal, futebol também é uma manifestação cultural. Afirmo, sem desvios freudianos, que a bandeira gloriosa é um símbolo de marginalidade e heroísmo muito mais eloquente que qualquer obra do Oiticica. E meus caros, o Solar da Fossa era vizinho de General Severiano, e isto não foi conjecturado coincidentemente. Ou foi? Sigo afirmando que nenhum outro clube no mundo pode ser considerado tão tropicalista quanto o Botafogo. Por quê?

 Prezados amigos, junte a malandragem de um Garrincha, a inteligência de um Gérson, uma poética retórica de um Neném Prancha, um protestantismo de um Afonsinho e um rancor, eternamente juvenil, de um João Saldanha que você terá o mais puro conjunto de insanidade já visto. Eles são os verdadeiros mutantes alquimistas do cosmo tropical latino-americano. Sem estes, envoltos em um manto místico de proteção amedrontadora, os músicos, cineastas e artistas plásticos não teriam inspiração criativa nem para ir até a padaria.

   Assim como o movimento sempre foi contrário ao rótulo de MPB, nós também sempre haveremos de ser contrários ao rótulo de time popular. Para coroar esta didática, hoje completam exatos quarenta e quatro anos da histórica final da Taça Guanabara. Aquela que fez adormecer a maioria dos carentes; E que fez enlouquecer os bons da cabeça e sedentos do pé.

        Salve a bossa, sa, sa!
        Salve a Ypióca, ca, ca, ca, ca!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012



      Peço-lhes 5 minutos de vossas atenções para dizer o que penso. Ou pensava. Ou pensarei. Não sei. Nem o tempo dirá.


O Clássico Engano de Tempo
      

Levantei-me da cadeira, após mais um fracasso revestido pelo resultado, e me direcionei à rampa de saída. Como de costume, caminhei sem prestar atenção em qualquer comentário despretensioso sobre o jogo. Sumariamente, alguém encosta em meu ombro. Por azar, era um amigo querendo conversar. Também pouco iludido pelo placar, pergunta-me o que tinha achado do time. Respondo-lhe que como estávamos em tempos de para-olimpíadas, até que tinha sido agradável. Os moralistas que me desculpem, mas não assisto essa competição. Sinto-me mal ver um cara sem pernas e braços nadar melhor que eu. Não sou contra a transmissão delas e tanto pouco sua existência. Apenas não assisto. Sem compreender minha resposta, meu amigo “complementa”:

        -É, esse time precisa de tempo.

      Aumento o passo do Lui e saio sem coragem de despedida. Aquela última palavra me é muito perturbadora. Tempo. Tempo. Tempo. Vamos ficar um tempo sem nos ver. O tempo responderá. O melhor remédio é o tempo. Mentira. Afirmo e explico daqui a 3 minutos que essa é a desculpa mais coringa e fiada que existe.

        Antigamente, quando algum esquete ia mal, os menos sensíveis diziam que era culpa do técnico, do jogador, da bola, do aquecimento global, da França, da gripe suína ou até mesmo da cerveja nos estádios. Mas as coisas mudaram, e em tempos de complexos de Bóson, os nossos piores inimigos ainda são os relógios e os calendários.
       
        Meus caros, a solução não virá com o tempo. Virá com mudanças, conversas, desistências esclarecidas e aceitações dubitáveis. Palavras como pausa, calma e espera nada são além de aliados do tempo. Quiçá sinônimos. O tempo não para? É obvio que não! Ele é a pausa. Esse intervalo que tanto me dá desgosto e preocupação. Quem nunca quis dormir e acordar três anos depois, ou antes, que atira a primeira pedra.

Esse time, minha vida, sua vida, nada mudará com o tempo. Mudarão com reclamações, brigas e, porque não, conclusões. Aguardemos os próximos dias...