quinta-feira, 13 de dezembro de 2012



Tudo é culpa do Oswaldo!

        Cheguei à portaria do meu prédio às três e meia da manhã. Confesso que em estado pouco comunicativo. Porém, seguindo a cartilha de qualquer bom lorde inglês nascido em Taubaté, deferi o cotidiano “boa noite” ao porteiro. Este, como qualquer bom ser solitário da madrugada, retrucou a mesma frase, no entanto com entusiasmo carnavalesco. Enquanto esperava o elevador, não pude deixar de pensar na carência humana exaltado a partir de um simples comprimento social básico. Ébrio, perguntei:
        -Zé, como vai seu time de pelada? – ele jogava num escrete de várzea. Feliz como um cão recém-chegado à uma barraquinha de cachorro-quente, responde:
     -Eles são muito ruins; Eu tenho que jogar no ataque, na defesa, no meio-de-campo e até na lateral.
    O elevador chegou. Inquieto mentalmente, não pude deixar de refletir sobre o tamanho de tal audácia futebolística. Como um dito jogador pode chamar outro de ruim se ele próprio não tem posição fixa? Não obtendo alguma conclusão interessante, fumei o último cigarro e dormi.
     Semanas se passaram até que um dia eu fui jogar bola no Aterro. No decorrer da partida, observo se aproximando das dimensões do campo ele, o Zé camisa 39. Curioso como sempre, permaneço após o jogo para assistir aquele camaleão futebolístico em ação.
        Ele começou jogando na trincheira, atuando feito um Fábio Ferreira. Para os leigos, era um porco prestes a ser abatido. Por tanto medo de perder a vida, ou tomar um drible, não pensava em outra coisa a não ser destroçar o adversário; ou o abatedor. Conforme o jogo seguiu, o atacante de “ofício”, detentor de um polvoroso espírito com capacidades físicas pouco correspondentes, pediu arrego e esbravejou:
        -Zé, troca de posição?
        E o craque, sem emitir um único som, começou sua cruzada individual à margem oposta, semelhando um príncipe dinamarquês em dia de casório. Passaram-se cinco, dez, quinze minutos e nada. Faltava um Gérson no meio-de-campo. Ou um cometa. Mas eis que, vinte minutos após a troca de posição, Zé domina a bola na marca do pênalti. Sem adversários próximos, apenas o goleiro, ele tenta ajeitar a danada, mas ela é rebelde. Mesmo assim, ele avança em direção ao gol. O goleiro cresce em sua frente, apesar de ter altura de um Hobbit. (trocadilho ridículo, eu sei). Zé finge que não vai, e vai. Finge que vai, e vai. Arquiteta um chute assassino e o goleiro rouba a pelota de seus pés. Fim de jogo. 1 a 0 para o outro time.
    Você pode estar se perguntando qual é a moral da história, afinal. Responderei, antes de qualquer balela, que esta é mais uma de muitas curiosidades infames e mesquinhas que um leitor pode ter. No entanto, como vossa vontade não impera sobre minha escrita, faço questão de explicar-lhes. Botafoguenses, cuidado! O Oswaldo continuará blasfemando nosso clube aos quatro ventos. Porém, como não me é de costume, peço-vos que não o apedreje. Ele não sabe o mal que nos faz, tão pouco as besteiras que diz. Se ele diz que futebol moderno não precisa de atacante de origem, eu digo que ele não entende quatro coisas na própria fala: O significado de atacante, de origem, de futebol e, muito menos, de modernidade.

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