Morte aos Déspotas!
Acabamos de
completar oito rodadas no campeonato nacional e ainda não tivemos, sequer, um
jogo de arbitragem imparcial. E digo isso sem pesar algum. Nós escolhemos o
clube que sofre de forças externas, pois gostamos de comprovações materiais de
que o mundo não é justo. Não é certo. E funciona de um modo pré-fabricado,
gostem ou não. Qualquer coisa que fuja do normal e do aceitável está com fadado
à desgraça. Estava.
Nós temos
alguns trunfos. Somos folgados o suficiente para querer que o mundo inteiro
saiba da merda aonde pisa. Botafoguense sempre foi catastrófico ao ponto de
elevar o erro de um juiz ao patamar de atentado terrorista na mesma velocidade
em que o comentarista esportivo alega sua opinião.
-É, realmente
houve um soco, seguido de um tiro na região abdominal e o lançamento de uma
granada. Mas concordo com o juiz, não marcaria falta.
Após anos
sofrendo com o poder monárquico, trabalhando em feudos elitistas e perigando
passar fome, aviso aos ouvintes misericordiosos: A revolução começou. Os jovens
estão chegando ao poder para acabar com esta zona de injustiças e julgamentos
precoces. Os velhos mandatários atuais não entendem palavras como futuro,
felicidade, liberdade e arte. A solução? Guilhotina.
E o começo foi
esplendoroso. Começamos a revolução com uma festa. Digo desde já, uma festa há
muito não vista no grande engenho, quiçá desde os tempos das rodas
capoeiristas. Uma guerra que se inicia de tal forma, tenho certeza, não está
fadado ao fracasso. Credito a primeira vitória ao reencontro de um pai e um
filho. Nada como uma relação familiar presencial para aflorar tais anseios de
mudança.
Sendo assim, O
Pequeno Alcides entrou em campo sem dar valor aos salários ou holofotes; Queria
apenas provar ao pai que era suficientemente capaz de se divertir. E que
diversão agradável de ser assistida. Mesmo sob injúria e má vontade do juizado
de menores, que lhe tirou um tento sem motivos legais, não abaixou a cabeça e
seguiu lutando. E, apesar dos chicotes e leões, continuou rindo e nos
convencendo. E avassalando o adversário. Dois simples tiros certeiros foram
convincentes para o prolongamento da festa.
Aí veio a
tomada da Bastilha, vulga Pacaembu, poucos dias após. E aprendemos uma lição,
de cara. Não podemos, dentro de uma revolução, renegar nenhum ser, mesmo que
este tenha um passado pesaroso, mesmo que este esteja amaldiçoado. Os
revolucionários de histórico duvidoso são os mais atuantes pelo simples fato
que necessita, constantemente, provar seu valor. Sim, ele continua precisando provar seu valor.
Três credos em duas batalhas não fazem dele a salvação da bandeira. Ele nunca
será a salvação de nada. No máximo, poderemos esbravejar sua redenção daqui a
alguns meses.
E invoco,
desde Danton e Marat até os anônimos de preto e branco, a participarem,
domingo, da batalha chave. A revolução está apenas começando, porém nossos aliados,
a juventude e os irreverentes guerrilheiros sem farda, alentam-nos sobre o
possível enforcamento dos déspotas. Poderemos até perder a próxima batalha, mas
a guerra continua. Tenho certeza de uma coisa: ganhando ou perdendo, o Maneco
terminará o jogo mijando na cartola de nosso infeliz adversário, como nunca
deixou de fazer. Assim na guerra, como na paz.
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