segunda-feira, 25 de junho de 2012



A Itália Botafoguense


            Podem duvidar, falar que é locura ou utilizar qualquer outra argumentação infalível, mas afirmo desde então que a Itália aprendeu muito com o Botafogo. Não só aprendeu, como agora cisma em querer imitar-nos, da forma mais plagiosa possível. Vide a cavadinho do Pirlo. Essa ligação da Itália com conquistas improváveis e o desprezo por campeonatos fácies tem uma origem. Arrisco dizer que sem o Botafogo, a Itália não teria história no futebol. Não teria referência.
           
O italiano, por natureza, é aquele ser que gosta de ser xingado. Ele não sente estímulos na vida sem ao menos ouvir sua mãe ser convocada para trabalhar no cabaré mais próximo. Em outras culturas, este tipo de declaração é uma afronta. “Mete a minha mãe no meio que eu meto no meio da tua”, diria o transtornado em crises existências. Mas o italiano não. Ele utiliza de sua superioridade moral para seguir em frente. Como prova de tamanha ignorância puritana, Benito Berlusconi é ídolo na Itália. Só na Itália.
           
Da política ao futebol, é um pulo. Ao menos para nós. Italianos, assim como botafoguense, acham que as duas coisas andam juntas. Todo ano algum jogo do Botafogo é adiado por conta de seu rival. Se o adversário não pode comparecer ao compromisso, W.O. Às vezes me pego pensando: A CBF é um órgão político que trata de futebol? A CBF é um órgão futebolístico que não trata de nada? A CBF é um órgão ou uma simplória espécie de câncer? Admito que qualquer resposta não me será satisfatória.
           
Em 2006, à véspera da Copa, o campeonato italiano revelou suas propriedades travessas. E os comentaristas vespertinos e prematuros analisavam o futuro fracasso da azurra. Conseqüência? O título mundial. Meus caros, não caiam dessa balela moralista assustadoramente evangélica que esse pessoal proclama. Manipulação de resultado tem em qualquer lugar. E é exatamente nesse ambiente pessimista que nós nos criamos. O péssimo é sempre mais atraente que o ótimo. Tragédias são muito mais emocionantes do que as comédias. Sem o Botafogo no mundo, a Itália sucumbiria a tais injurias e perderia. Nós estamos no mundo por um único motivo: Acabar com a falsa felicidade alheia. Não por menos, quando um jogador dá algum drible desconhecido por lá, eles profanam: “À lá Garrincha”.
           
            Ontem, perdemos para a Macaca no Grande Engenho. Eu acharia vergonhoso ganhar de um time com este apelido. Acordei hoje e fui à padaria tomar um café. No meio do meu pacifico primeiro cigarro, Seu Manoel ameaça uma provocação:

            -Que derrota ontem, hein? – e começou a contar-me como foi o jogo, achando que eu não havia assistido. Afinal de contas, eu tinha tudo para estar possesso, mas estava ali, em uma calma quase que contagiante – Aí, o jogador ficou na cara do gol e chutou. 2 a 1. E o Botafogo...

            -Calma, Seu Joaquim – interrompi apagando o cigarro - Primeiro, não pronuncie esse nome em vão. E segundo, o senhor já ouviu as expressões piedade e “azar de campeão”?

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